CAPÍTULOS & CONTOS

1) BORBOLETAS (JASMIN: 185/991)

18 de Agosto de 2020

O navio finalmente atracou no porto, já faziam alguns dias desde que saíram e Yoseph já não aguentava ficar lá dentro, na verdade ele nunca gostou de navegar e o que queria mesmo é correr para bem longe daquele navio, mas respirou fundo e foi procurar Jasmin, que diferente dele havia gostado da viagem e não queria sair do navio. Depois de andar um pouco a viu no convés correndo de um lado para outro fotografando tudo que podia da nova cidade.

- Você terá bastante tempo para ver a cidade de perto, não precisa fotografar tudo.

- Mas eu quero guardar esse momento, essa sensação!

- Então ande logo, pois já temos que desembarcar – Jasmin tentou fazer cara de emburrada com a notícia, mas estava muito animada para isso.

Yoseph voltou para a entrada do navio para pegar as últimas malas, quando Jasmin passou correndo por ele quase derrubando uma mala na água, mas assim que deu alguns passos percebeu a comitiva de clérigos que estavam à sua espera. Ela ficou séria ao ver isso, pois não sabia como reagir até seu pai passar e cumprimentar um dos clérigos.

- Bom dia, esperamos que tenham aproveitado a viagem. Fomos chamados para recepcioná-los.

- Bom dia, é um alívio finalmente ter chegado! Minha filha estava ansiosa para finalmente conhecer a cidade.

- Nos acompanhe, vamos lhes mostrar a cidade.

(…)

Akhanta abriu a porta da estufa, olhou o espaço até achar Lúcius ajoelhado. Ela caminhou até ele e o viu com as crianças: Somnium estava testando algo com alguns frascos e verificava em um livro de botânica que estava próximo enquanto Noah tentava manipular um pouco de gelo.

- Tenha calma, só tente amassar esse cubo – Lúcius aconselha Noah.

- Certeza? Eu não sei se consigo.

- Noah vai logo, isso é a coisa mais simples que papai te pediu hoje – Somnium fala enquanto folheia o livro.

- Fica quieto, você não sabe como é! – Noah resmunga.

- Calma Noah, concentre-se aqui – Lúcius repreende e percebe Akhanta se aproximando dele.

- Querido, eles chegaram e já estão subindo – Akhanta comenta com Lúcius.

- Já? Achei que chegariam mais para noite... Noah depois continuamos – Lúcius se levanta e manipula o gelo, transformando em água e jogando em um copo próximo. 

Noah olhou emburrado para o copo enquanto Akhanta se aproxima da porta e fez um sinal para que alguém entrasse.

- Boa tarde, azulzinho! Digo, agora é majestade, não é? – Yoseph entra e dá um abraço forte em Lúcius.

- Seja muito bem-vindo, veterano! - mesmo ser ar por causa do abraço repentino, Lúcius faz um esforço para responder.

- Essa é a minha filha Jasmin. - Yoseph percebe que o abraço foi forte demais para o rei e o solta.

- Então essa é a Jasmin? Puxou a mãe – Lúcius a cumprimenta.

- Muito boa tarde, meus senhores – Jasmin se curva educadamente.

- É um prazer conhecê-los, sintam-se à vontade - Somnium entra na conversa de maneira educada.

Foi então que o teto começou a pingar, mas antes que alguém pudesse falar algo os pingos se transformaram em uma garoa.

- Azul...Majestade, se lá fora o tempo está seco... por que aqui chove? – Yoseph pergunta confuso.

- Você queria água, Somnium? Acho que é o suficiente agora! – Noah finalmente aparece, mostrando que ele tinha achado que o comentário de Somnium foi um desafio e ele estava pronto para mandar uma bela resposta, mas assim que viu os convidados a surpresa foi tanta que virou um susto e a chuva parou.

- Você que fez isso? Estranho – Yoseph ficou tão surpreso que nem reparou que falou alto.

- Não, pai! – Jasmin cochicha enquanto dá um puxão na camisa de seu pai.

- Você que fez isso? Diferente – Yoseph tenta se corrigir e Jasmin o encara, mostrando que era melhor ele ter ficado em silêncio.

- Pelo menos você regou as plantas... – Akhanta brinca.

- Levem Jasmin para conhecer a cidade – Lúcius pede e Somnium os acompanha tranquilamente, já Noah vai envergonhado com a cabeça abaixada.

- O pequeno inury também é seu filho? – Yoseph pergunta, ainda confuso.

- Sim e parece que ele acabou herdando um pouquinho dos meus poderes – Akhanta ri.

- Então o azulzinho realmente se casou com a Elemental? Desculpe-me a maneira de falar, mas é que ninguém leva essa história a sério em Scio.

- Não se preocupe, já nos acostumamos com a surpresa de todos – Lúcius diz enquanto entrega uma toalha improvisada para Yoseph – vamos indo então?

(…)

- Aquele ali é um pomar que minha mãe plantou quando chegou na cidade – Somnium fala ao passar pela porta do castelo, mas percebe que Jasmin não conseguia esconder a surpresa com o ocorrido – Ah, esqueci que vocês não tinham visto coisa do tipo...

- Perdão, mas você fala como se já estivesse acostumado… digo, criar chuva é algo muito complexo. Acho. Bom... pelo menos é o que parece, né? – Jasmin comenta.

- Está tudo bem, ele faz coisa assim toda a semana... Né Noah? – Somnium chama seu irmão que ficou escondido atrás da porta.

- Me desculpem... é que eu não percebi que vocês entraram.

- O que mais você consegue fazer? – Jasmin pergunta tentando disfarçar uma certa curiosidade.

- Você não está com medo? - A pergunta de Jasmin anima Noah.

- Na verdade... eu achei legal... Magia azul parece ser mais divertida que a vermelha. Bom, pelo menos eu não gosto muito da vermelha, sabe? É só explodir e queimar coisas...

- ... E o que você gostaria que eu fizesse? – Somnium percebe a empolgação do irmão ao ouvir a oferta.

- Consegue fazer neve? Eu nunca vi neve… Pelo menos, não a neve natural...

- É claro que consigo!

- VAMOS PERTO DO POMAR! – Somnium o alerta segurando sua mão.

Noah já tinha começado a juntar a neve na mão, mas ao escutar o Somnium ele pensa por um instante e faz uma plataforma de gelo debaixo deles e a empurra em direção ao pomar que desliza suavemente sobre a grama. Quando eles chegaram Noah transformou a plataforma em um monte de neve e como estavam em movimento as crianças são jogadas para frente, mas a neve amortece a queda.

- Isso foi assustador... faz um furacão! – Jasmin pede empolgada.

- Vamos com calma, né Noah! Não acha melhor conhecer a cidade primeiro, Jasmin?

- Tem razão! … Qual o jeito mais mágico de fazer isso? – Dessa vez Jasmin não conseguia esconder a animação.

- (Bufa) Nosso barco voador? – Somnium sugere e Noah sorri em resposta.

(…)

Lúcius e Akhanta estavam em uma sacada do castelo, eles mostravam a cidade para Yoseph quando viram um navio cristalino com hélices de helicóptero passando por cima deles.

- O que é isso, majestade?

- Sério que já fizeram o barco voador – o comentário de Lúcius deixa Yoseph ainda mais confuso.

- Eles vão se dar muito bem, Noah demora algumas semanas para mostrar o barco para um novo amigo – Akhanta brinca.

O navio flutuava suavemente pela cidade, Jasmin corria de um lado para o outro, tentando ver cada detalhe. As crianças estavam se divertindo tanto que não percebiam que isso era um tanto quanto perigoso.

- Noah levanta mais o barco, ele está muito perto das casas – Somnium avisa – Quando tempo você acha que consegue manter?

- Acho melhor já pousar, fiz esse muito grande.

- Então vai para esquerda, estamos no meio do mercado... você sabe a distância até a água, não sabe?

- Sei, mas acho melhor você me guiar.

Somnium correu até ponta do convés, fez uma pose heróica e falou:

- Mais uns 40 metros aí você pousa!

O navio posou com certa velocidade, mas nada a ponto de causar danos. As crianças riam e Jasmin não parava de bater fotos até Noah se aproximar.

- Noah! – Somnium fala surpreso.

- Eu sei... 

Quando Jasmin olha, Noah estava com seus braços cristalizados. Seu riso virou susto.

- Acho que nós empolgamos muito – Somnium brinca – vamos descer e seguir a pé.

- Mas e ele? – Jasmin preocupada aponta para Noah.

- Acho que abusei um pouco... – Noah espirra e um punhado de gelo voa suavemente pelo ar.

- Mas você está bem? – Jasmin indaga.

- Relaxa, ele está bem – Somnium brinca – é só um efeito colateral, mas a camada de gelo derrete logo.

- E o barco? – Jasmin lembra.

- Pode deixar, isso alavanca o turismo de um jeito que você não imagina – Noah brinca – na primeira vez demorou uma semana para derreter.

Os quatro desceram do barco, Jasmin percebeu que as pessoas não estranharam um barco de gelo voando na cidade, alguns já estavam arrumando os preços de suas mercadorias para os turistas que Noah comentou. 

Eles continuaram o passeio a pé, sendo que em uns 10 minutos Noah voltou ao normal. Jasmin fotografava tudo que podia perguntava tudo sobre os lugares e as pessoas. A curiosidade era algo nítido no rosto da nova moradora da cidade.

- Acho que já fomos em todos os lugares da cidade – Somnium comentou.

- Andamos mais rápido do que eu esperava – Noah complementa.

- O barco nos deu uma vantagem, quem sabe outro dia vamos de novo – Jasmin fala meio tímida.

- É, hã, claro, CLARO! É só pedir que eu faço! – Noah fica animado.

- Está bem! – Jasmin ri - E... para qual direção fica a mansão do meu pai?

- É aquela ali – Somnium aponta – querem apostar uma corrida até lá?

- Estava esperando você perguntar! – Noah revela seu lado competidor.

- Eu quero também... Posso participar?

​

Os três se prepararam, tentaram fingir seriedade e começaram a correr. Somnium saiu em disparada na liderança, já que estava levando aquela competição a sério. Jasmin vinha logo atrás, ela deu tudo de si, mas como não estava tão competitiva como Somnium e seu vestido a atrapalhava um pouco, acabou ficando para trás. De repente Noah joga Jasmin em suas costas e os dois começaram a correr desesperadamente para alcançar Somnium.

(…)

Lúcius, Akhanta e Yoseph estava na porta da mansão olhando a cena de três crianças correndo desesperadas para eles.

- É normal isso, meus senhores? – Yoseph ri discretamente enquanto pergunta.

- Mais do que você imagina – Akhanta observa curiosa, querendo saber quem ganharia.

​

- Licença! Oi pai, oi mã... – Antes que Somnium terminasse a frase ele passa e bate em um sofá por não conseguir parar.

- CHEGAMOS! - Jasmin e Noah chegam por último rindo, ele tropeçou nos degraus da escada e deslizou até a porta.

- Ainda bem que viemos de carro – Lúcius brinca enquanto levanta Somnium.

​

Após as crianças se acalmarem e todos conhecerem a mansão os Sacerdos se retiraram para deixar os convidados se organizarem com calma. 

- Até amanhã, Noah! – Jasmin se despede e nesse momento Noah percebe uma pequena borboleta pousando na cabeça dela. Então ele responde com um sorriso bobo e se senta no banco do carro.

(…)

Já era de noite quando Somnium se deita em sua cama para ler um livro de filosofia de uma série que estava estudando, já Noah estava na frente do espelho com uma lixa raspando seus dentes caninos, como fazia todas as noites.

- Noah, acho que você já raspou bastante por hoje...

- Certeza? Estou achando que estão maiores... será que meus dentes estão crescendo mais rápido? E se ficar feio? Imagina eu com presas de 2 metros...

- E desde quando você se preocupa com isso? Você não vivia dizendo que só raspa para não incomodar?

- É, mas... temos que estar apresentáveis para nosso povo, né?

- Para nosso povo, sei...

- É sério, presas muito grandes dão uma sensação de desleixo.

- Eu percebi, tá.

- Percebeu o que? – Noah questiona confuso.

- O jeito que você olhava para certo alguém… um certo alguém que tinha uma certa borboleta rodeando...

- ...do que você está falando? – Noah tenta fingir que não sabe do assunto, mas estava sorrindo muito desde voltaram para casa.

- Está falando de uma certa Jasmin? Que chegou hoje em uma certa cidade? – Akhanta entra no quarto com algumas cobertas, pelo olhar ela estava escutando a conversa.

- Sim - Somnium ri - quer dizer: a que vai morar em uma certa mansão aqui perto?

- Tá chega vocês! - Noah guarda a lixa e se deita.

- Todos percebemos, deu pra ouvir vc ronronando o dia todo, Noah – Akhanta responde rindo para provocar Noah.

- MÃE! – Noah grita envergonhado.